sábado, novembro 20, 2004

Gruta das Alcobertas

Gruta das Alcobertas.
(Fotografia por Alexandre Araújo)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (11ª e última parte)

Gruta das Alcobertas

Esta maravilha da natureza, talvez sem rival na europa, fica próximo à aldeia das Alcobertas.
Não posso dar d'ella melhor descripção, do que resumindo o que o sr. Bernardino Arede Soveral publicou no nº 127 do Diário Illustrado de 4 de Novembro de 1872.
Peço desculpa ao sr. Soveral por cortar as bellezas da dicção com que adornou o seu bello artigo, mas um diccionário, a não se descrever tudo sem flores de rhetorica, enfadaria os leitores, e augmentaria inconvenientemente volume da obra.
Eis o resumo da descripção do sr. Soveral:
"A dois kilómetros da povoação, começa a levantar-se o dorso da serra: é ella toda cintada com fiadas de pedras, similhantes a extensissimos degráos de uma escada de gigantes, e de tal modo a prumo, que, apesar de galgarmos com ancia tão íngreme subida, gastámos n'esta tarefa quasi meia hora e quasi também as forças.
...
Accenderam-se portanto, e distribuiram-se os brandões de cera que levavamos. Bem depressa a luz do dia desappareceu, e esta especie de procissão caminhava à luz das tochas. Eramos ao todo 9 pessoas.
Tinhamos caminhado uns 15 a 20 metros, e a gruta já tinha uma capacidade de 3 metros de alto e 2 de largo: nas paredes d'ella começavam a apparecer camadas de diversas crystalisações, que similhavam um fôrro de musgo; mas tão branco e transparente, como se uma camada de neve, em manhã d'Inverno, houvesse cahido por cima d'elle, conservando-lhe a forma ramosa. Era lindo ver como as nossas luzes faziam refulgir uns reflexos cambiantes d'aqueles grumos apparentes de um orvalho gelado.
Tenho visto algumas das grutas que ha no paiz. Li na excellente obra de Adolphe Joanne (Voyage illustrée dans les cinq parties du monde) as descripções de diversas grutas, e não encontrei alli, como na gruta que dscrevo, tantas, tão variadas e tão imponentes crystalisações, em uma distancia de mais de 300 passos, com abóbadas de cinco a nove metros de altura, recamadas de estalagmites admiráveis pelo volume, pelas côres, pela transparencia e pelo brilho. É realmente surprehendente o ver como das paredes da galeria brotam umas crystalisações como se fosse vegetação de mármore e vidro, aflorando aquellas superficies perpendiculares; outras vezes, pousando aquelles ornatos sobre uns degraus que vão esconder-se nos franjados que pendem dos extremos da abobada: faz parecer que uma cascata acabava de se gelar n'aquelle momento.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

segunda-feira, novembro 15, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (10ª parte)

Marinha de sal

A dois kilómetros ao N. da villa, em um extenso valle, proximo do logar da Fonte da Bica, está esta importantíssima e justamente famosa marinha, única no seu género na Península Hispânica; pena é que não seja mais bem explorada.
No meio do terreno occupado pela marinha, está uma nascente inexgotável, da qual nos mezes do estio se tira água, por meio de dois baldes (!) de noite e de dia, e é conduzida, por ordem, a cada um dos depósitos, ou compartimentos, feitos no solo, com um metro de profundidade, e a que chamam talhos. Pertencem estes a diversos donos, e valem (segundo a distancia a que se acham da nascente) termo médio, cada talho 80$000 réis.
O sal aqui produzido, é superior em qualidade, e mais forte do que o sal marinho, ou commum.
Já vimos que em 1177, era explorada esta marinha, e que já o havia sido em maior escala, em tempos muito anteriores.
Segundo a tradição, a marinha não era no sítio actual, mas uns 60 a 70 metros mais ao N., e a nascente tão pouco abundante que apenas dava para 6 talhos, e que fazer a 3 ou 4 homens; não chegando o sal que ella produzia, nem para o consumo das povoações circumvisinhas.
Uma pequena que andava na planície (hoje local da marinha) apascentando uns jumentos, sabia que junto a uns juncos havia uma nascente de água, e como tivesse sede foi alli beber, mas notou que era excessivamente salgada.
Regressando a casa, deu parte d'esta circumstancia ao pae, que, junto com outros visinhos, se foram ao juncal, e alli abriram um poço, e quanto mais o profundavam, maior quantidade de clorurêto de sodium era expedida: mas a antiga nascente secou.
Estes exploradores, trataram logo de fazer talhos, e a colher optimo sal, em bôa quantidade.
Foi-se desenvolvendo esta indústria, e hoje ha, nada menos de 400 talhos, valendo cada um dos mais próximos da nascente 144$000 réis, e os mais remotos 14$400 réis.
O poço actual (d'onde brota a água) tem 11 metros de profundidade, e 8 de circumferencia.
O sal, como o extrahido da água do mar, forma-se por evaporação, e, quando o calor é mais intenso, está o sal prompto em quatro dias.
Dá-se ao producto d'estas marinhas, o nome de sal espuma. É mui claro, secco, e brilhante de tal maneira, que d'elle se formam bellissimas pyramides e varias outras figuras, como do assucar refinado de lasca, ou de pedra.
Excede tanto em qualidade o sal commum (marinho) que, para salgar carnes, basta metade da porção do extrahido da agua do mar.
É summamente saturado de muriato de soda, purissimo, e sem mistura de muriatos calcareos e magnesianos, que se encontram nos outros saes communs, e que os tornam amargos e deliquescentes.
Saindo do logar d'esta marinha, está uma vasta planície, cuja parte mais considerável pertenceu aos monges bernardos de Alcobaça, e o resto a particulares. Aqui, no sítio chamado Marinha Velha (onde primeiramente se colheu sal) ainda nos estios se formam a periferia bellissimos crystaes de muriato de soda.
N'este sítio, sobremaneira infértil, apparece com vigorosa vegetação, a Salsola-Kali, de Linneu, e algumas das outras plantas proprias das visinhanças do mar, e das cinzas das quaes se faz a sóda ou barrilha.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

quarta-feira, novembro 10, 2004

Os 4ºs Conde e Condessa de Rio Maior.

António de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa (1836-1891)
e sua esposa, Maria Isabel de Lemos e Roxas Carvalho e Meneses
de Saint-Léger (1841-1920)

Os 1ºs Conde e Condessa de Rio Maior.

João Vicente de Saldanha Oliveira e Sousa Juzarte Figueira (1746-1804), enquanto criança, e Maria Amália de Carvalho e Daun (1756-?)

domingo, novembro 07, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (9ª parte)

Condes de Rio Maior

O primeiro conde de rio maior (João Vicente de Saldanha Oliveira e Sousa Juzarte Figueira), foi feito pelo príncipe regente, depois D. João VI, em 8 de Janeiro de 1803. Era 16º morgado do vínculo de Oliveira, instituído em 1262.

2º - António de Saldanha d’Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 17º morgado de Oliveira, gentil-homem da câmara do rei D. João VI, grão-cruz das Ordens de S. Thiago e Conceição, commendador da de Christo, embaixador extraordinário ao Brasil, em 1823, commissário-real para acompanhar o Sr. D. Miguel I (quando ainda infante) em suas viagens, coronel do Regimento de Milícias dos Voluntários Reaes de Lisboa (por elle creado.) Nasceu a 16 de Novembro de 1776, e falleceu, em Vienna d’Austria, a 3 de Março de 1825. Tinha casado, em 16 de Novembro de 1806, com sua prima, D. Maria Leonor Ernestina de Carvalho Daun e Lorena, filha dos terceiros Marquezes de Pombal.
Foram seus filhos:
1º - D. Maria Francisca, nascida a 21 de Março de 1809.
2º - João, que foi 3º Conde.
3º D. Maria Amélia, nascida a 11 de Janeiro de 1815, casou em 25 de fevereiro de 1835, com Luiz Carlos d‘Abreu Bacellar Castello Branco, moço fidalgo, commendador da Ordem de Christo, deputado da extincta Junta do Tabaco.
4º - Nuno, nascido a 13 de Maio de 1822.
5º Luiz, nascido a 30 de Novembro de 1824 e fallecido a 12 de Novembro de 1852.

3º conde – João de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 18º morgado de Oliveira, par do reino em 1826, commendador da Ordem de Christo, alferes do regimento de cavallaria de lanceiros, e ajudante de campo do conde de Villa Flor.
Succedeu a seu pae, a 3 de Março de 1825. Nasceu a 18 de Setembro de 1811; casou a 22 de Setembro de 1835 com d. Isabel de Sousa, nascida a 12 de Julho de 1813, e era 1ª filha dos condes de Villa-Real.
Teve dois filhos:
1º - António, o conde actual.
2º - D. Thereza, nascida a 4 de Setembro de 1837.

4º Conde – António de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 19º morgado de Oliveira, nascido em 8 de julho de 1836, e feito conde em 13 de Agosto de 1853.
Reside no seu palácio do Largo da Annunciada, em Lisboa.

A Sr.ª Condessa de Rio Maior é uma das damas mais caritativas d’este reino. Sempre coadjuvada por seu digno esposo, é o anjo da caridade de todos os desvalidos; e se vê à frente de todas as instituições que tenham por fim o interesse dos pobres.
Tem fundado escolas catholicas, para os dois sexos, em differentes localidades.
Obteve do governo a concessão do mosteiro das carmelitas, da Rua Formosa (Lisboa) e alli fundou um asylo para cegas, que foi inaugurado em 16 de julho de 1878, com oito cegas, mas pode conter muito maior número.
Se a Sr.ª Condessa não tivesse praticado anteriormente tantas obras piedosas, que exaltam o seu illustre nome, bastava esta para revelar a immensa bondade do seu coração, e para ser tão respeitada no mundo, como hade ser premiada na Bemaventurança.
A nobreza da sua alma bemfaseja é muito superior à que herdou dos seus esclarecidos ascendentes.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sexta-feira, novembro 05, 2004

Quinta do Seabra

S. João da Ribeira. Quinta de José Seabra da Silva. Secretário de Estado Adjunto do Marquês de Pombal. Séc. XVIII






Antigo Teatro Riomaiorense

Teatro Riomaiorense. (Construído em 1876, demolido nos anos 80 do séc. XX)
(Fotografia in DUARTE. Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (8ª parte)

Em 1876 construiu-se um theatro, a expensas da associação denominada - Progresso Dramatico Riomaiorense.
Além d'esta associação, há mais as seguintes:
Gremio de Instrucção e Recreio Riomaiorense, estabelecida em um magnfico predio, no melhor sitio da villa, e formado pelas pessoas mais importantes do concelho, e de alguns cavalheiros dos immediatos.
Monte-Pio, ou Associação Protectora Riomaiorense, que fornece aos socios doentes, facultativo e medicamentos.
Centro Promotor Riomaiorense, tem por fim, unir, para todo e qualquer objecto proveitoso ao concelho, os seus habitantes.
Estas duas ultimas associações devem-se à iniciativa do sr. commendador, Vicente Augusto d'Araújo Camizão, abastado proprietário d'este concelho, e ex-delegado do thesouro em Santarém.

Ha n'esta villa algumas fabricas de cortumes.

Exporta madeiras, rezinas, sal, pedra de cantaria, pedreneiras, azeite, vinho, fructa e outros géneros agrícolas.

Quintas

Ha no concelho as seguintes:
S. Payo, do sr. Camizão, e da qual já fallei.
Quinta Nova e a dos Figueiredos, do sr. commendador Francisco Luiz dos Santos.
Assentiz e Sanguinhal, da viúva do commendador Freire.
Sobreiros, do sr. João da Maia Rosa.
Carvalhal, do sr. Francisco Ferreira Campos, cirurgião-mór militar.
Seabra, dos srs. Viscondes da Bahia.
Bastidas, do sr. João José da Costa, d'esta villa, mas residente em Lisboa.
Alem de outras de menos importancia.

Ha no concelho 80 moinhos, para cereaes, alguns com duas, tres e quatro mós; e 73 lagares de azeite - serindo a todos de motor, a agua do rio.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

segunda-feira, novembro 01, 2004

Chafariz do Cabo do Lugar. 1864

Antigo Cabo do Lugar. Actual Praça da República. Chafariz construído em 1864. Demolido.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Chafariz da Praça do Comércio. 1864

Praça do Comércio. Chafariz construído em 1864 e demolido em 1931.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Leituras no tempo. Rio maior 1878 (7ª parte)

Esta villa tem tido muito desenvolvimento; possue alguns bons prédios, de construcção moderna; te bons estabelecimentos commerciaes, cujo movimento é de bastante importância.
Ao E. e S. estendem-se por mais de 12 kilometros, magníficos pinheiraes, cuja madeira, pela sua boa qualidade, tem prompta e vantajosa exportação para diferenes localidades do districto e para Lisboa.
Ao O. existem inexgotáveis pedreiras de cantaria e alvenaria, d'onde se extrahem e exportam grande úmero de carradas de pedra, não só para differentes obras do concelho, como para outras localidades, algumas das quaes estão a mais de 30 kilometros de distancia.

Minas

Nas visinhanças d'esta villa, e dentro dos limites do seu concelho, ha minas de diffeentes metaes e metaloides. Os afloramentos mais visives são:
Pyrites de ferro, ao S. da villa, no sítio chamado Fonte-Rabaça. É de pouca importância, apezar de conter algma prata; mas, em tão diminuta quantidade, que não promete bom resultado a sua lavra.
Antracites (carvão mineral) existem minas em differentes partes do concelho, que se não exploram, por desmazello, ou por falta de capital.Cobre, a N. da villa, proximo do logar da Fote da Bica. Não se explora.
Chlorurêto de Sodium, metaloide descoberto por Schéele em 1771. É a mais importante de todas, e inexgotável É esta mina que dá origem às famosas marinhas de Rio Maior.
Em junho de 1875, manifestou o sr. Bernardino de Arêde Soveral, na camara d'este concelho, uma mina de pedras lytográphicas, com algum minério de prata.

Aguas mineraes

Abudam por estes sítios as nascentes de óptima agua-ferrea, mas, infelizmente, nenhuma aproveitada, pela incúria dos povos do município.
Ha tambem algumas nascentes de aguas sulphurosas; mas, nem estas, nem aquellas, foram ainda competentemente analysadas.

Ha tambem abundancia de boa agua potável, e, em 1864, co um subsídio do gverno, construiu a camara mais dois chafarizes.

Ha em Rio Maior uma feira annual, nos dias 1,2 e 3 de setembro, na qual se fazem importantes transações, principalmente em gados, madeiras, generos alimenticios e outros. Antigamente, fazia-se esta feira nosdias 15, 16e 17 do mesmo mez: é concorridissima.

Proximo à aldeia da Fonte da Bica, é o sitio chamado Valle das Laranjas, pelas muitas e óptimas que produz, e que são das melhores senão as melhores) de todo o reino; pelo que dão em toda a parte muito mais dinheiro do que outras quaesquer. E Lisboa são muito apreciadas.

O clima d'este concelho é um dos mais saudaveis da província.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sábado, outubro 30, 2004

Ponte de Ferro do Porto de Freiria

Ponte de Ferro do Porto de Freiria. Construída em 1876.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (6ª parte)

Estradas

Passava por esta villa a estrada real, de Lisboa ao Porto, mandada construir por Dª Maria I, e n'ella se encontram algumas obras d'arte de muita importancia, como as pontes de Asseiceira e Fonte Branca: havia também a da Amieira, que foi demolida. As outras ainda estão bem conservadas.
Ao sul da villa, foi construída, em 1870, por conta do governo, uma óptima ponte de alvenaria, sobre o rio. É municipal.
Actualmente, é atravessada pela estrada real em construcção, que hade ligar Santarem com a praça de Peniche, e com a que liga esta villa com a estação do caminho de ferro da Ponte de Sant'Anna.
É n'esta estrada a ponte de Freiria, cujo taboleiro foi lançado a 27 d'Abril de 1876. Esta ponte está entre Rio Maior e o Cartaxo.
Offereceu grandes obstaculos a construcção dos fundamentos para os encontros.
A ponte é de ferro e tem 40 metros de vão, e a viga é em treilli, com 4 metros de altura. A sua construcção foi dirigida pelo distinctissimo engenheiro, o sr. Domingos da Apresentação Freire, que foi o auctor do projecto.
Foi construida pela acreditada casa Fives Lille.
Ao acto do lançamento do taboleiro assistiram os administradores de Rio Maior e Cartaxo, as camaras municipaes d'estes dois concelhos, o director das obras publicas do districto, os engenheiros da mesma direcção, mr. Labille (representante da empreza constructora Fives Lille) e mais de 4000 pessoas das visinhanças.
Durante a operação, tocaram as philarmonicas do Cartaxo e Rio Maior, e houve differentes vivas.
A ponte é no sítio chamado Porto da Freiria.
Andam em construcção, a estrada de Rio Maior a Alcobaça, e a da mesma villa a Torres Novas.
Ha também uma boa estrada municipal, nova, que vae d'aqui à aldeia das Alcobertas, na extensão de 3 kilometros.
Já se vê que este concelho não é dos mais mal dotados, quanto a viação publica.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sexta-feira, outubro 29, 2004

Hospital da Misericórdia (1870)

Antigo Hospital da Misericórdia (Construído em 1870)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (5ª parte)

Hospital.

Existe n’esta villa um pequeno hospital, fundado em 1619, que, segundo consta de documentos antigos, era administrado pelo hospital da Misericórdia, de Santarém. Os moradores de rio Maior, pediram a D. José I, em 17 de Janeiro de 1759, a creação de uma irmandade da Misericórdia, para curar do edifício e do tratamento dos doentes pobres. O rei lh’o concedeu, por alvará de 18 de Abril do mesmo anno, com obrigação de prestar contas annuaes ao provedor da câmara de Santarém.
A construção primittiva d’este estabelecimento de caridade, era acanhada e em más condições hygienicas; mas, em 1870, por donativos de bemfeitores, foi reconstruído, e actualmente é um edifício próprio para o fim a que é destinado; podendo accomodar até 30 enfermos que d’elle necessitem, na sua passagem para as Caldas da Rainha, que é para o que elle desde o princípio se construiu. Para custear as despezas do hospital, deixou a Infanta D. Isabel Maria, filha de D. João VI, quando regente, e por alvará do anno de 1826, para a Misericórdia, os rendimentos das Irmandades do Menino Jesus, Nossa Senhora das dores, e S. Sebastião.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

quinta-feira, outubro 28, 2004

Bocas

Bocas. Nascente do rio Maior.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)


Escola Comercial

Escola de Instrução Primária. Escola Comercial. Biblioteca Municipal.
Construída em 1878.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (4ª parte)

Junto à capella de S. Miguel, já mencionada, existiu um pequeno castello, que se diz construído pelos mouros. Foi completamente demolido, e no chão que occupava se construiu uma escola de instrução primária, para ambos os sexos, com dois pavimentos, fundada pelo benemérito sr. João José da Costa, da Quinta das Bastidas, próximo desta villa, que a offereceu à câmara municipal.
O rio que atravessa a povoação, e lhe dá o nome, nasce na grande serra das Bôccas. Ainda em 1870 brotava a água por entre os serros; hoje sae por orifícios, abertos na muralha que cinge a estrada real que alli passa. É um dos sítios mais aprazíveis d’esta freguezia.
As nascentes são importantíssimas, deslisando-se a alguma distância por terreno alcantilado, mas depois entra nas férteis veigas que circundam as suas margens, até ao Tejo.
Segundo a tradição, parte d’esta água era desviada, por meio de canalisação subterrânea, da qual ainda restam vestígios, para uso de uma fábrica de fundição de metaes, no tempo dos árabes. Esta canalisação principiava (a julgar pelos vestígios) nas barreiras chamadas do Tufo, no sítio da Buraca da Moura, e terminava no sítio das Covas do Adro, onde estava o tal estabelecimento metallúrgico.
Em Agosto de 1874, andando um lavrador a alqueivar a terra, na Quinta das Bastidas, a um kilómetro da villa, sentiu que o dente do arado se lhe prendera em uma grande pedra de mármore.
Deu parte d’isto ao dono da quinta, e, depois de algumas horas de trabalho, se descobriu um magnífico subterraneo, que d’esta propriedade se dirigia para o rio, passando pela quinta do Jogo d’Ouro. Julga-se que este subterraneo está em communicação com outros. A tradição attribue esta obra aos mouros, mas, pela sua magnificência e solidez, parece mais obra romana.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

Hospício Franciscano

Hospício de Frades Franciscanos. Paços do Concelho. Demolido.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (3ª parte)

O hospício de frades Franciscanos (arrábidos) em que já fallei, foi fundado por uma D. Anna de tal, em 1763, segundo se lê em uma inscripção que ainda alli se vê, e diz – Aedificata est aedicula Sacra família, 1763.
A fundadora doou o hospício aos franciscanos, com a obrigação de estabelecerem alli uma fábrica de buréis, para empregar as pessoas necessitadas d’esta povoação.
O edifício foi cedido à Câmara Municipal, por um officio do governo civil de Santarém, em 1837, tomando a câmara posse em 19 de Fevereiro de 1838.
Estão n’elle estabelecidas as repartições públicas do concelho, câmara, administração, repartição de fazenda, tribunal judicial, escola do sexo masculino.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, 1878

terça-feira, outubro 26, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (2ª parte)

Capellas d'esta freguezia
Santo António - no antigo hospício de frades Franciscanos. Foi isto vendido em 1834, e a capella ficou profanada. O seu altar era de primorosa talha dourada e os azulejos que revestiam as paredes interiores, de notável correcção de desenho.
S. Gregório - ao E. da villa, d'ela só restam as ruinas.
S. Miguel, archanjo - no ponto mais elevado d'este sítio, e d'onde se gosa um magnífico panorama. Pertence à irmandade das Almas.
S. Sebastião - em sítio alegre e espaçoso, e cujo padroeiro é objecto de grande devoção do povo. Foi construida em 1569 e o alpendre feito em 1688.
Todas estas capellas são em Rio Maior.
S. António - na aldeia da Azinheira. É pública, e festeja-se o padroeiro no seu dia.

Santo André - junto ao logar da Anteporta. A festa do padroeiro é no 1º de Janeiro de cada anno. Também n'esta ermida se festeja Santo António no dia 13 de Junho de cada anno.
S. Domingos e Santo Amaro - no logar da Asseiceira, a 5 kilometros da villa; pública - e cuja festa é em um dos domingos de Outubro. Deste logar até à villa, ainda se vêem varios lanços de muros e supporte e outros vestígios, da antiga estrada militar, de Lisboa para Peniche, e que passava pela villa.
S. João Baptista - no logar da Fonte da Bica: é pública e se festeja no seu dia. Também n'esta capela se festejam todos os annos as imagens de Nossa Senhora do Monte do Carmo, Nossa Senhora da Ajuda, Santo António e S. Sebastião.
S. Payo - na quinta do mesmo nome, hoje propriedade do sr. Vicente Augusto de Araújo Camizão. Antigamente, quando alguém tinha sesões, recorria a este santo, e hiam à sua capella em romaria, e alli comiam sopas de ovos! Este costume acabou; mas ainda se faz uma festa annual ao padroeiro.
Nossa Senhora da Luz - em uma propriedade da srª Viúva Caldas, de Santarém. A padroeira é objecto de grande devoção dos povos d'estes sítios, que lhe fazem uma esplêndida festa, no dia designado pelos devotos.
Santa Anna - na serra das Bôccas. Está em ruinas.
Nossa Senhora de Nazareth - na antiga quinta do Jogadouro. Tanto a capella como as casas da quinta foram devoradas por um incêndio em 18 de Janeiro de 1823. Segundo a tradição, esta quina já existia no tempo dos mouros, e o seu nome lhe provém de um jogo que elles aqui jogavam, com bolas e paus de ouro, ou dourados. É certo que ha uns 30 annos, em uma excavação que se fez n'esta propriedade, appareceram algumas pequenas barras de ouro, em forma de disco. Esta quinta é banhada pelo rio, e é circumdada de grandes árvores, que denotam muita antiguidade.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, 1878

Igreja do Espírito Santo

Igreja da Misericórdia. Antiga Igreja do Espírito Santo.

Primitiva Igreja Matriz

Torre da primitiva Igreja Matriz. Igreja de N.a S.a da Conceição.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878

Rio Maior - villa, Extremadura, cabeça de concelho, na comarca e distrito administrativo de Santarém, 85 km ao NE de Lisboa, 850 fogos. Em 1757 tinha 632 fogos.
Orago Nossa Senhora da Conceição.
Patriarchado de Lisboa.
O rei, pelo tribunal da mesa de consciência, apresentava o prior, que tinha 180 alqueires de trigo, 120 de cevada e 20$000 réis em dinheiro, tudo pago pela commenda.
Está situada junto do rio do mesmo nome, que, com 54 km de curso, desagua na margem direita do Tejo, quasi em frente de Salvaterra de Magos.
O concelho de Rio Maior, é composto de sete freguezias, todas no patriarchado, e com uma população de 2900 fogos. São - Alcobertas, Arruda dos Pisões, Azambujeira, Fráguas, Outeiro da Cortiçada, Ribeira, e Rio Maior.
É povoação muito antiga: mas não tem foral, novo ou velho; pelo menos, Franklim não o traz.
A notícia mais antiga que encontro d'esta povoação, é uma venda feita por Pero Baragão e sua mulher, Sancha Soares, em 1177, aos Templários, da quinta parte que tinham no poço e salinas de Rio Maior, cujo poço partia pelo E. com a Albergaria do Rei, pelo O. com D. Pardo e com a Ordem do Hospital, pelo N. com marinhas da mesma ordem (Espitalle se escrevia então), e pelo S. com marinhas do dito D. Pardo.
Já então as salinas de Rio Maior eram exploradas, mas consta de memórias escriptas, que antes do século XII o tinham sido em muito maior escala.
Adiante fallarei do estado actual d'estas marinhas.
Na aldeia da Azinheira, próxima à villa, e da sua freguezia, há uma bonita capella, dedicada a Santo António, e, perto d'ella, grandes pedreiras de silex (pedreneira) que se extrahe em grande quantidade; e ainda em muito maior se tirava antes de haver armas de fulminantes.
Os povos da Azinheira, empregados na factura de pedreneiras, foram até 1834 isentos de recrutamento. Hoje, a maior extracção deste producto, é para Hespanha e Ultramar.
Rio Maior nunca teve foro de villa, mas, sendo elevada a sede de concelho, por decreto de 6 de Novembro de 1836, foi desde então considerada como tal.
A primitiva egreja matriz estava a uns 4 metros do antigo leito do rio, e a uns 50 da povoação.
Consta que havia sido feita pelos ascendentes do sr. Marquez de Penalva, que eram commendadores da commenda de Nossa Senhora da Conceição, d'esta freguesia, com a obrigação dos reparos da mesma egreja; mas esta nunca se chegou a concluir.
Em 1810 principiou a arruinar-se, e d'ela apenas hoje restam as paredes e a torre, na qual ainda estão os sinos parochiaes.
Mudou-se a matriz para a pequena egreja do Espírito Santo, que pertence à irmandade da Misericórdia, e é insufficiente para conter o povo d'esta grande povoação. É de simples architectura e tem altar-mor e quatro lateraes.
A requerimento do povo, foi, em 1875, ordenado, pelo ministério das obras públicas, que se levantasse a planta para a nova egreja matriz.
Foi orçada a obra em 5 contos de réis, e os parochianos offereceram um conto.
Está marcado para local da nova egreja, o sítio onde existiu o castello mourisco de que ja fallei (?); mas sabe Deus quando ella se fará.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, 1878