quinta-feira, outubro 28, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (4ª parte)

Junto à capella de S. Miguel, já mencionada, existiu um pequeno castello, que se diz construído pelos mouros. Foi completamente demolido, e no chão que occupava se construiu uma escola de instrução primária, para ambos os sexos, com dois pavimentos, fundada pelo benemérito sr. João José da Costa, da Quinta das Bastidas, próximo desta villa, que a offereceu à câmara municipal.
O rio que atravessa a povoação, e lhe dá o nome, nasce na grande serra das Bôccas. Ainda em 1870 brotava a água por entre os serros; hoje sae por orifícios, abertos na muralha que cinge a estrada real que alli passa. É um dos sítios mais aprazíveis d’esta freguezia.
As nascentes são importantíssimas, deslisando-se a alguma distância por terreno alcantilado, mas depois entra nas férteis veigas que circundam as suas margens, até ao Tejo.
Segundo a tradição, parte d’esta água era desviada, por meio de canalisação subterrânea, da qual ainda restam vestígios, para uso de uma fábrica de fundição de metaes, no tempo dos árabes. Esta canalisação principiava (a julgar pelos vestígios) nas barreiras chamadas do Tufo, no sítio da Buraca da Moura, e terminava no sítio das Covas do Adro, onde estava o tal estabelecimento metallúrgico.
Em Agosto de 1874, andando um lavrador a alqueivar a terra, na Quinta das Bastidas, a um kilómetro da villa, sentiu que o dente do arado se lhe prendera em uma grande pedra de mármore.
Deu parte d’isto ao dono da quinta, e, depois de algumas horas de trabalho, se descobriu um magnífico subterraneo, que d’esta propriedade se dirigia para o rio, passando pela quinta do Jogo d’Ouro. Julga-se que este subterraneo está em communicação com outros. A tradição attribue esta obra aos mouros, mas, pela sua magnificência e solidez, parece mais obra romana.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

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