sábado, abril 28, 2007

Património Mineiro e Industrial em Rio Maior . Parecer do IPPAR (Parte 2, continuação)


PARECER SOBRE A IMPORTÂNCIA PATRIMONIAL E SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO MINEIRO E INDUSTRIAL, EM RIO MAIOR.

II. Mina (continuação)

1.2 Evidências Patrimoniais.

a) A mina é um enorme repositório de vestígios resultantes da apropriação do Homem, em função das actividades aí desenvolvidas, quer sejam do foro económico, técnico ou sociológico.

b) Poderemos assim definir como património mineiro – todos os vestígios materiais e imateriais resultantes da actividade mineira ou extractiva deixados e perscrutados no território e nas suas gentes (3).

c) As evidências geológicas revestem-se, evidentemente, neste fenómeno mineralógico de uma importância maior, pois constituem a base do assentamento e da apropriação humana neste território, conhecendo-se (estudos) que as reservas dos diversos minérios explorados até 1970 continuam a existir em abundância, tendo até permitido discursos posteriores em torno de hipotéticas reaberturas das minas.

d) O couto mineiro (4) surge seguidamente, na sua abrangência territorial, como uma área de referência primária para a exploração mineira e, em consequência, para a edificação de vestígios materiais ou imateriais relacionados com as actividades aí desenvolvidas.

e) As evidências materiais podem, sumariamente, compilar-se em torno dos espaços relacionados com o trabalho representados por toda uma materialidade técnica ou produtiva e dos lugares de vida de uma população que gravitava ao redor da economia da mina:

- As evidências técnicas ou produtivas do período de exploração da mina são escassas ou encontram-se em mau estado ou mesmo em ruína, devido, por um lado à má qualidade das construções, revelando um certo carácter de efemeridade ou de contenção de custos, e por outro ao rápido processo do seu desmantelamento a que se assistiu após o encerramento da actividade mineira. São, contudo, visíveis em diversos locais da área de exploração marcas desta actividade (v. fotos 11, 12, 14) que não encerram em si valor significativo de uma reposição da memória, exceptuando a entrada da galeria (junto à fábrica de briquetes) e eventualmente o troço correspondente. O pólo inicial, que seria expressivo até do ponto de vista da inauguração deste fenómeno, constituído por posto médico, escritórios, laboratório, central eléctrica e poço de acesso às galerias, é inexistente e o que subsistiu insignificante.

- Quanto às formas de vida reconhecidas numa sociabilidade mais lata encontram-se presentes na própria cidade de Rio Maior através dos diversos bairros residenciais criados para albergar o inúmero grupo de trabalhadores que aí se fixou aquando do período mais intenso da actividade da mina, constituindo uma realidade que o território urbano incorpora, mesmo que involuntariamente. O carácter de proximidade dos poços mineiros da cidade condicionou a instalação da habitação no seu tecido construído, afastando-nos da imagem mais comum dos grandes bairros mineiros localizados em áreas ermas, exceptuando-se o pequeno conjunto ainda designado por bairro residencial dos mineiros (v. foto 12). As restantes áreas residenciais (planta 01) edificadas ou com dinheiros das empresas mineiras – bairro de Sta Bárbara promovido pela EICEL em 1959; ou com capitais privados/ assistenciais – bairro do Padre Américo, 1952-55, disseminam-se na cidade, fixando e incorporando uma malha urbana reflexa das preocupações dos primeiros planos de urbanização realizados a partir dos anos 30-40 do século XX, neste caso será um plano, provavelmente da década de cinquenta.

(3) Definição in Salvaguarda do património mineiro. Memória para uma identidade. Deolinda Folgado, no prelo.

(4) Os (…) engenheiros da empresa chegam à conclusão de que a bacia carbonífera de Rio Maior é inesgotável. A zona de lignite compreende parte dos Concelhos de Rio Maior, Porto de Mós e Leiria e pertence a duas épocas geológicas, Jurássica Superior e Quaternária, encontrando-se as camadas de carvão jurássico intercaladas com grés e calcários (In Mina de Lignite e a Fábrica de Briquetes do Espadanal). Claro que a extensão da bacia carbonífera não coincide com o couto mineiro, de qualquer modo revela o âmbito da dimensão de território de que se poderá falar.



Planta 01: Cidade Actual/ Vila 1968/ Construções do período mineiro: 01. Complexo mineiro do Espadanal; 02. Cais de Embarque da Via-férrea; 03. Bairro Laureano Santos; 04. Bairro do Abum; 05. Sede do Clube de Futebol Os Mineiros; 06. Rua Nova do Gato Preto; 07. Bairro do Pe. Américo; 08. Bairro de Sta. Bárbara; 09. Cantina do pessoal da EICEL.


In Região de Rio Maior nº968, de 27 de Abril de 2007

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