sexta-feira, julho 25, 2008

I Jornada do Património Mineiro. Comunicações (parte 11)

(continuação do artigo publicado no jornal Região de Rio Maior nº1032 de 18 de Julho de 2008, pág.8)

Para os municípios portugueses, o QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional) dá evidentes oportunidades de financiamento no estabelecimento de parcerias entre autarquias, associações, fundações e a Administração Central, tendo por objectivo o desenvolvimento de programas para promoção do funcionamento em rede de determinados segmentos de património que permitam ao grande público obter perspectivas de enquadramento temático, estilístico e cronológico dos bens históricos, culturais e artísticos, bem como incentivar a práticas inovadoras de gestão e animação.

O investimento em património, se bem que bastante exigente na medida em que se trata de uma tarefa nunca acabada, tem um efeito extraordinariamente multiplicador e uma compensação infinita no campo dos sentimentos. Ninguém ama a sua Terra pela sua economia, mas sim pela sua cultura! E esta não é de esquerda nem de direita, mas sim do foro da inteligência.

O dinheiro que pode ser aplicado no sector da cultura, e no património em particular, constitui um investimento, não um gasto ou uma despesa sem retorno. A cultura é uma alavanca de progresso e desenvolvimento nas sociedades. É elemento gerador de conhecimento, de qualificação, de emprego e de vitalidade económica.

Falar de património não é só falar de pedras e de máquinas. Quando dele falamos, falamos, sobretudo e em primeiro lugar, de pessoas. Pessoas que têm o direito à sua fruição. E que nele se revêem e identificam em torno de uma história comum, de uma cultura partilhada, da memória do esforço e da inteligência dos seus antepassados, ou seja, das suas e nossas raízes. E são estas raízes que nos tornam, hoje, mais coesos e mais solidários.

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Por fim, e uma vez mais, quero saudar a iniciativa do Centro de Estudos Riomaiorenses e da Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial, por eu considerar que esta realização se trata de uma fórmula construtiva de chamar a atenção para o património, promovendo o debate em seu torno e fomentando, mais do que a sua salvaguarda, a sua salvação pelo perigo do seu desaparecimento.

O nosso pequeno país, mas grande em património, precisa de mais cidadãos sensíveis, inteligentes e perseverantes, no que respeita às questões da memória colectiva de cada concelho. Rio Maior deve-se orgulhar do Nuno Alexandre. Pelo que sei, o dia de hoje deve-se em muito à sua sensibilidade e perseverança. Estou certo que, pela sua generosidade, ele partilhará esta sua primeira conquista mesmo com aqueles que não valorizaram inicialmente o seu empenho e o valor do património em causa.

Devo lembrar que, poucos meses depois do 25 de Abril de 1974, o professor Vitorino Magalhães Godinho referia ao Diário de Notícias de 19 de Outubro que: «o Português gosta de história como forma de discurso, mas, no fundo, não é sensível aos testemunhos do passado. É dos povos que menos apreço revelam pelo espólio cultural da sua terra». Isto em 1974.

Digo eu que, em três décadas de Democracia e de abertura do país e dos espíritos dos Portugueses, muito se avançou, mas ainda sopram ventos que nos trazem notícias que parecem muito mais antigas.

Precisamente no mesmo Diário de Notícias, mas há muito mais tempo, na edição de 21 de Outubro de 1958, portanto há precisamente 50 anos, Leitão de Barros deixou esta frase lapidar e ainda muito actual: «E como este país é aos quadradinhos como o tabuleiro de xadrez, é preciso ir ganhando as partidas [mas] sem cheque-mate...». Por isso é que eu sublinho – hoje aqui em Rio Maior – que a história do património não é só o discurso do belo, do grandioso, mas também o discurso da inquietação, da dúvida, da perturbação (quando não da agitação e da revolta).

Nem que seja de forma decidida de ora em diante, estou certo que os riomaiorenses darão um exemplo digno ao país na defesa deste seu, e nosso, património.

Bem Hajam.
Rio Maior, 12 de Abril de 2008


Perspectiva do auditório da Biblioteca Municipal Dr. Alexandre Laureano Santos no decurso da Comunicação: “Os Papeis da Política e da Cidadania no Património Local”.

(continua)

COMISSÃO PARA A DEFESA DO PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DE RIO MAIOR in Região de Rio Maior nº1033, de Sexta-feira 25 de Julho de 2008.

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