sexta-feira, maio 27, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (Parte 7)

(continuação do nº1179, de 13 de Maio de 2011, pág 7)

A reutilização do património industrial foi, na última década, reconhecida pelo Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial (TICCIH), através da Carta de Nizhny Tagil (2003) (25), como forma aceitável de assegurar a sua conservação. Nesse documento podemos reconhecer as bases nas quais assentam os princípios orientadores da proposta de restauro da fábrica de briquetes que formulamos no presente estudo:

1 – Conhecimento aprofundado da História da unidade industrial a intervencionar.
A história, numa perspectiva multidisciplinar, deve ser o elemento essencial no debate da conservação arquitectónica (26). Para evitar uma demasiado frequente destruição de elementos fundamentais para a compreensão histórica dos edifícios, baseada em razões funcionais decorrentes dos programas a instalar, a opção sobre uma nova função e a sua materialização arquitectónica devem ser subordinadas aos valores históricos em presença.
Esta exigência de um conhecimento da História aplica-se a toda a profundidade da intervenção, desde a compreensão da íntima relação entre a lógica volumétrica do edificado e a sua antiga função, à compreensão do estado da arte à época da construção, na escolha e aplicação de linguagens estéticas, de materiais e de sistemas construtivos. A nova intervenção deve compreender o valor do património industrial enquanto documento da história da arquitectura e da técnica.

2 – Preservação do esquema produtivo original.
Um edifício industrial é em si mesmo uma grande máquina, materializando nas suas volumetrias um diagrama funcional de produção. A truncagem deste sistema integrado, por muito que algum dos elementos construídos possa por si só parecer irrelevante na sua qualidade arquitectónica, torna incompreensível o conjunto.
Os novos programas a instalar devem assim ser compatíveis com a anterior função do edifício, preservando “os esquemas originais de circulação e de produção” (27) e respeitando os materiais utilizados. Recomenda-se que a adaptação evoque a antiga actividade industrial.

3 – Reversibilidade e impacto mínimo da intervenção.
A nova intervenção arquitectónica deve garantir as exigências funcionais dos programas de utilização, mediante uma “sábia adaptação das obras existentes” (28), desenhando e colocando os novos elementos técnicos estritamente necessários, sob um princípio de agressão mínima à estrutura original e fácil reposição do edifício nas condições iniciais. A qualidade arquitectónica
da intervenção estará assim na sua capacidade de servir a estrutura existente, anulando tanto quanto possível a presença material de tudo o que não lhe pertence.

A execução de um registo exaustivo de alterações que não possam ser evitadas é, neste contexto, indispensável, devendo promover-se, sempre que possível, e o seu estado de conservação assim o permita, a recolha e armazenamento dos elementos removidos em condições de uma hipotética futura reintegração.












































Secção de briquetagem da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal. Estado de conservação actual e estado de conservação original, que se pretende recuperar.

Notas:

(25) Carta de Nizhni Tagil sobre o Património Industrial, traduzida pela APPI. Disponível na Internet via: http://www.mnactec.cat/ticcih/pdf/NTagilPortuguese.pdf

(26) CAPEL, Horácio – “La rehabilitación y el uso del património histórico industrial”. In Documents d’Anàlisis Geográfica nº29. Barcelona, 1996, pág.49.

(27) Carta de Nizhni Tagil sobre o Património Industrial, traduzida pela APPI. Disponível na Internet via: http://www.mnactec.cat/ticcih/pdf/NTagilPortuguese.pdf

(28) CAPEL, Horácio – “La rehabilitación y el uso del património histórico industrial”. In Documents d’Anàlisis Geográfica nº29. Barcelona, 1996, pág.50.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1180, de 20 de Maio de 2011

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